Há décadas o impacto da tecnologia vem afetando a organização da sociedade como um todo – só no Brasil, já superamos a marca de um smartphone por habitante, por exemplo, com mais de 220 milhões de aparelhos ativos em todo o país. Segundo um levantamento feito pela empresa de estatísticas Statista (dados de 2016), os brasileiros são os que passam mais tempo usando smartphone no mundo: em média 4 horas e 48 minutos por dia. Tanta conectividade tem alterado a rotina de diversos setores, mas, na área da saúde, essas mudanças são ainda mais visíveis e, literalmente, sentidas.
Especialistas dizem que as tensões na nuca e no pescoço causadas pelo tempo inclinado em uma posição indevida para visualizar a tela do celular são determinantes para causar dores na coluna, no braço, no ombro e na cabeça, cada vez mais comuns na população. Segundo Alberto Croci, ortopedista do Hospital de Beneficência Portuguesa de São Paulo, “as pessoas passam muito tempo com o pescoço curvado por causa dos smartphones, algo que a médio e longo prazo compromete a coluna de forma silenciosa”.
Ao mesmo tempo que esse problema social contribui para o aumento das dores e doenças, podemos comemorar que a pesquisa tecnológica na área da saúde vem beneficiando os tratamentos das dores na coluna, que são as que mais têm afetado a saúde dos brasileiros, e otimizando a recuperação dos pacientes.
Com avanços tecnológicos que vão da adoção de prontuários eletrônicos até a tecnologia biomédica, as mudanças propiciadas vêm alterando a prestação geral de cuidados, mudando a comunicação, os tratamentos, a pesquisa e coleta de informações.
No Brasil, a tecnologia também vem impactando a saúde e melhorando tratamentos, garantindo a melhoria da qualidade de vida e reduzindo custos. Principal razão de afastamento dos brasileiros do trabalho, as dores na coluna cervical fizeram 116 mil trabalhadores deixarem suas funções só em 2016, segundo o INSS. Se antes, os cuidados dos casos mais graves exigiam intervenções que levavam meses para a recuperação completa, hoje, com os avanços recentes da tecnologia, a realidade é outra. De acordo com o doutor Ailton Moraes, médico especialista em coluna, a tecnologia vem causando impacto significativo na fixação da coluna cervical anterior, entre outros.
Novos materiais vem sendo criados para substituir os produtos ósseos e o titânio tradicionalmente usados nas cirurgias de fixação da coluna cervical, por exemplo, impedindo a ocorrência de diversos problemas inerentes ao uso de ossos e titânio, como rejeição óssea e prevenção de infecções.
“Há alguns anos, em uma cirurgia de hérnia de disco na coluna cervical, por exemplo, para substituir o disco removido era utilizada uma porção de osso do próprio paciente que era obtida a partir de uma incisão separada feita na parte anterior do quadril do paciente. Hoje, o uso de novos materiais e a intervenção cirúrgica minimamente invasiva facilitou substancialmente a realização da cirurgia em si e a recuperação do paciente”, informa Moraes.
Cirurgias minimamente invasivas na coluna: benefício dos avanços tecnológicos
Nos casos de dores crônicas em que os tratamentos conservadores, como uso de analgésicos e fisioterapias não fazem mais efeito, como fibromialgia, hérnias de disco, escolioses e lombalgia, por exemplo, a cirurgia na coluna acaba se tornando a melhor solução. A novidade é que muitos desses problemas podem ser solucionados por meio de cirurgia endoscópica, uma técnica minimamente invasiva na qual o cirurgião utiliza um sistema de tubos óticos e um monitor de alta definição para operar o paciente a partir de um único orifício percutâneo.
Utilizando procedimentos cirúrgicos que invadem menos os tecidos e o corpo, e, consequentemente agridem menos o organismo, a cirurgia minimamente invasiva preserva a anatomia a fim de resolver o problema e, ao mesmo tempo, minimiza as dificuldades pós-cirúrgicas, proporcionando uma recuperação mais rápida aos pacientes.
Outra vantagem importante dessa técnica é que ela não exige anestesia geral e pode ser aplicada a pessoas de qualquer idade e condição física. As taxas de infecção e hemorragia são baixas e por ser um procedimento ambulatorial, o paciente pode ir embora no mesmo dia, retomando suas atividades rotineiras na sequência, como o retorno ao trabalho.
Cirurgia robótica e simulação digital em procedimentos da coluna
Uma das últimas edições do North American Spine Society, maior evento médico mundial em informações, técnicas inovadoras e melhores práticas de tratamento da coluna e que reúne profissionais de todo o mundo, apresentou novidades importantes, entre elas, um aparelho de ressonância magnética que permite a simulação de movimentos reais da coluna vertebral e a cirurgia robótica da coluna que utiliza um programa no qual os dados do paciente são inseridos no braço robótico, o qual realiza procedimentos cirúrgicos com alto grau de precisão. Em breve, tecnologias como essas poderão ser usadas no Brasil e vão proporcionar um grande benefício para o desenvolvimento das cirurgias.
Mas, se o futuro parece promissor, o presente já mostra que a realidade dos brasileiros que sofrem de problemas da coluna já começa a mudar com o advento dos avanços tecnológicos. A tecnologia já coloca à disposição de profissionais da área de saúde, por exemplo, técnicas e equipamentos cirúrgicos modernos para realização de radioscopia (um raio X dinâmico feito através da introdução dos materiais metálicos sem grandes incisões) e artroscopia (cirurgias com acesso ao órgão através de mini-incisões), que possibilitam o avanço contínuo da cirurgia minimamente invasiva da coluna, assim como de outros órgãos.
Tudo indica que a causa dos afastamentos do trabalho no Brasil deverá mudar nos próximos anos com a modernização dos tratamentos das dores nas costas, já que, com as novidades e procedimentos minimamente invasivos, poucos dias serão o suficiente para uma recuperação rápida e eficaz dos brasileiros afetados pelo problema.
Fonte: Exame