A prótese total do joelho é uma das mais bem sucedidas cirurgias ortopédicas, o que explica a sua crescente popularidade a nível mundial.
Contudo, como em qualquer cirurgia, podem surgir complicações. A infeção (ou “rejeição”) atinge cerca 1-2% dos doentes operados. Apesar de pouco frequente, na prática este é um problema progressivamente mais comum, visto que há cada vez mais pessoas a viver com próteses.
Uma das principais dificuldades relacionadas com a infeção da prótese do joelho é o diagnóstico. Na grande maioria dos casos o único sintoma é a dor constante. Outros sintomas como derrame articular (“líquido”) ou rigidez são também possíveis. Apenas em casos raros existem sinais inflamatórios evidentes (calor, rubor) e saída de pus pela ferida operatória ou drenagem ocasional de líquido por um pequeno orifício (fístula).
Esta infeção nunca pode ser excluída com base apenas nos sintomas e exame físico, é necessária uma análise ao sangue e, nos casos suspeitos, ao líquido sinovial (da articulação).
A abordagem a uma prótese infetada exige sempre a combinação de tratamento cirúrgico e antibióticos, e nunca apenas antibióticos.
Se os sintomas duram há pouco tempo, é possível fazer uma cirurgia de limpeza e complementar o tratamento com antibioterapia adequada.
No caso de infeções crónicas, contudo, este tratamento pode levar a um desaparecimento temporário dos sintomas mas não resolve o problema, que acaba por reaparecer em geral ao fim de alguns meses. Nestes casos, forma-se um biofilme bacteriano sobre a prótese, como se fosse uma película de bactérias, que não é penetrado nem pelas defesas do organismo humano, nem por antibióticos: a única solução para eliminar o biofilme é retirar a prótese infetada.
Este tratamento consiste normalmente na revisão em dois tempos. Numa primeira cirurgia retira-se a prótese e todos os tecidos infetados e coloca-se um espaçador impregnado com altas doses de antibiótico, que irá manter o espaço articular e alguma função da articulação e ajudar a erradicar a infeção.
A segunda cirurgia, geralmente cerca de 8 semanas depois, consiste na recolocação da prótese (não existe qualquer vantagem em aguardar mais tempo, na maioria dos casos). Durante este período, a terapêutica com antibióticos eficazes contra a bactéria responsável pela infeção é essencial.
Mantendo a prótese original, a taxa de sucesso do tratamento depende da curta duração dos sintomas, do tipo de bactéria isolada e da antibioterapia escolhida. Na revisão em dois tempos, o sucesso depende do rigor da primeira cirurgia na exérese de todos os tecidos infetados, para além da extração da prótese e qualquer outro material estranho que possa estar presente (parafusos, cimento ósseo…).
Apesar de ser uma complicação difícil de tratar, a aplicação rigorosa de um protocolo criterioso por uma equipa dedicada a este tipo de problemas leva a taxas de sucesso acima dos 90%.
Fonte: Dr. Ricardo Sousa