A composição química do tecido ósseo (microestrutura) consiste em: Componente inorgânico (hidroxiapatita) conjugado com a matriz extracelular (colágeno), células e fatores de crescimento. Esses componentes estão associados às propriedades de osteogênese, osteoindução e osteocondução. Na verdade, é a presença ou a ausência dessas propriedades no enxerto ósseo que determinam diferentes resultados histológicos e clínicos (sucesso dos implantes).
O enxerto ósseo autógeno – pela ausência de qualquer tipo de processamento – preserva o componente inorgânico e os fatores de crescimento. Porém, por muito tempo, houve a dúvida se as células do enxerto ósseo sobreviveriam no leito receptor e se manteriam a capacidade de formação do novo tecido ósseo (osteogênese).
Osteogênese
Esse mecanismo foi comprovado a partir de alguns achados, que demonstraram experimentalmente que enxertos ósseos contendo periósteo exibiam formação óssea a partir das células oriundas do próprio enxerto. Um estudo relatou que, na superfície do enxerto ósseo, células sobreviviam graças à difusão de oxigênio e nutrientes do leito receptor, e enfatizou a importância dessas células para a consolidação do enxerto.
No entanto, até recentemente, o exato mecanismo de osteogênese do enxerto ósseo autógeno não tinha sido plenamente esclarecido. Então, autores identificaram em um modelo de enxertos ósseos isógenos em ratos – com a inserção da green fluorescent protein (GFP) no genoma do animal doador do enxerto ósseo e posterior (semanas depois) revelação do produto desse gene no enxerto posicionado no animal receptor – que células do enxerto sobrevivem e, definitivamente, colaboram para a incorporação e remodelação do enxerto ósseo.
Esse estudo mostrou que, entre sete e 14 dias após a enxertia, os osteoblastos identificados no enxerto – que estavam em processo ativo de formação óssea – e os osteoclastos eram oriundos do enxerto ósseo. Esses osteoblastos expressavam genes de formação óssea (BMPs e Noggin). Células do leito receptor (osteoblastos e osteoclastos) foram identificadas no enxerto a partir do dia 14 e substituíram completamente as células oriundas do enxerto no dia 423.
Em conclusão, as células provenientes do enxerto formaram osso novo, principalmente na fase inicial de consolidação, e a expressão de BMPs por essas células pode estimular a formação óssea a partir de células do leito receptor. No grupo-controle, enxertos ósseos sem medula óssea e congelados não apresentavam formação óssea. Estes resultados são suportados pelos achados clínicos em que o índice de consolidação de fratura é baixo em tratamentos com aloenxerto, uma vez que estes são exclusivamente osteocondutores.
Portanto, os estudos respondem claramente: Sim, uma quantidade de células permanece viva no enxerto ósseo autógeno posicionado no leito receptor e colabora de forma significativa para a formação e remodelação do novo tecido ósseo.
REFERÊNCIAS
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Por Luis Antonio Violin Pereira